Carpe Diem

E que venha a loucura

E que venha com toda a força

Força que me faça despencar das minhas próprias crenças

Crenças loucas


E que venha a fé

E que venha você

Renda-me!

Lute e enlouqueça também

Fuja da realidade

E se entregue às oportunidades...


Abandone a sua razão insana

E se afogue nesse mar de incertezas

Seja puramente profana

E que o nosso juiz seja a nossa vontade


E que o nosso controle e bom senso sejam passageiros

Viajantes de longa data

E que se percam na nossa odisséia

Na nossa aventura

Com nossa loucura

Buscando o porquê de ainda existir...

(Noturno)

domingo, 26 de dezembro de 2010

CAPÍTULO I: A Decisão


- Está decidido!
- Está?
- Sim, tenho certeza que nasci para isso. Cansei de me iludir com esse sonho de ser doutor, até porque nem meu este sonho é! Não vou viver a ilusão dos outros, nem muito menos sofrer por ela.
- Pelo visto em breve seremos colegas de trabalho, não é mesmo?!
- Bem, eu espero que sim. Mesmo que eu saiba que isso ainda vai demorar um pouco.
- Que nada rapaz! Você vai fechar a prova do vestibular cara! Tenho certeza disso! Não vai demorar muito e as escolas estarão disputando por uma hora sua, logo logo,  estará enchendo os bolsos com muita grana. Vai ser um sucesso. Sem sombra de dúvida você é uma enorme promessa!
- Também não é pra tanto professor. De qualquer forma, eu agradeço o seu apoio. Escolher um curso desse não é fácil. Existe muita discriminação sobre ele.
- Eu não sou totalmente a favor. Você sabe que eu nunca gostei dessa área, mas nem sempre seguimos o caminho que desejamos. De qualquer forma, sei que você tem potencial. Sei que a área não é fácil, mesmo assim garanto que você pode virar o jogo. Não é de agora que eu percebi esse seu jeito, parece uma mula, só reage após uns bons tabefes!
...

Aracaju, 15 dias para o vestibular UFS.

            O celular toca. Uma música já meio batida me acorda mais uma vez. Atordoado, sonolento, cansado, preciso levantar. Mais um dia de aula, falta pouco para as férias, mesmo assim, parece que esse ano não vai terminar nunca. Visto-me, engulo alguma coisa, mergulho no guarda-roupa e saio voando para o carro. Não quero me atrasar outra vez, mas parece inevitável, já consigo ouvir as piadinhas e os resmungos dele. Sarcasmo não é indicado para a saúde nas primeiras horas da manhã.
            Entre um sinal e outro relembrava o sonho da noite anterior. Sentia-me estranho, minha cabeça parecia pesada, aliás, tudo ultimamente tem parecido pesado demais. Aquele sonho era como se fosse uma forma da minha própria consciência esbravejar: “Foi você que escolheu!”. Seria irônico se não fosse trágico. Acelero o carro, os minutos parecem voar no meu relógio e cada tic tac soa como uma guilhotina próxima do meu pescoço. Realmente, isso não tem nada de irônico.
            Entre mim e o sonho já se iam quase 5 anos. Lembro como hoje cada vírgula daquele dia, eu tinha 18 anos e cabelos longos, contudo, minha paciência era muito curta para suportar as lamúrias da minha família. Tudo que eu fazia desandava: cursos técnicos, especializações, cursinho para o vestibular, mesmo assim, nada era suficientemente bom para minha mãe. A mulher somente enxergava os meus erros e tropeços, minhas indecisões, era como se ela estivesse esperando eu cair para apontar, acusar e esbravejar, ainda posso ouvir os gritos dela pela casa. Insuportável. Às vezes parecia que ela tentava reproduzir em mim, os fracassos que ela própria carregava. Não! Eu mal podia suportar as minhas falhas, quanto mais as de uma mulher adulta cheia de si e com muito pouco a me acrescentar. Eu precisava sair dali, o quanto antes, precisava fazê-lo rápido. Não conseguia mais ficar ali. Eu me sentia sufocado só em ouvi-la perguntar se eu iria comer em casa.
            Faltam 4 quarteirões e muitos pensamentos até eu chegar à escola, ainda me sinto embebido ao sono que minutos antes me acomodava. Sono enraizante, cansaço também, há muito tempo me sinto assim, até parece que já virou uma característica pessoal. Meus pensamentos me levavam de volta àquele bendito dia, àquela sala, àquele tablado. Sempre que me lembro disso, fico com a sensação de que era isso ou continuar amarrado às reclamações e cobranças da minha mãe, era a forca ou o risco. Eu preferi o risco, acho até que me convenci que precisava do risco a ter que suportá-la, não podia mais.
Nunca pensei que aquela conversa de anos atrás fosse retornar a minha memória com tanta força. Até parece que ela sempre esteve aqui, esperando o momento oportuno para me por em xeque. Aquele fim de tarde não parecia tão significante, mas agora que mergulho em meu passado, agora que busco incansavelmente por respostas, entendo que ali, bem ali, naquele pequeno tablado de madeira tudo foi firmado e decidido. Era jovem demais para perceber o caminho que estava trilhando para mim, jovem demais para perceber o duro fardo que tinha escolhido. Será que eu tinha mesmo certeza? Estaciono o carro, chego à escola. Hora de enfrentar os meus primeiros demônios.
            - 5 minutos, Pietro! 5 MINUTOS! Quando você vai assumir os compromissos com a escola?! Você faz o que quer, chega na hora que quer. Qual o seu problema? Onde você pensa que está? Ei?! Não dê as costas para mim enquanto falo com você! Pietro!?
            Aquela figura patética se dirigia a mim com aquele suposto olhar de superioridade. Apontava o dedo para o relógio como se portasse uma chibata para me punir. Ridículo, soberbo. Arrogância e vaidade nunca foram características que me agradaram, toda aquela pose, toda aquela máscara de supremo mandatário me irritava. Somente ele não tinha sido avisado de que, ele era também um empregado. Empregado menos qualificado do que eu, menos preparado do que eu. Sua postura me irritava, mas ainda assim, não me dei o trabalho de respondê-lo, não tinha cabeça para aquilo. Nem muito menos razão para fazê-lo. Estava errado, quase me esquecia disso enquanto ignorava-o. Talvez o que mais me incomodava era ter que me submeter àquela situação. Desprezível.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Pietro. Prefácio

Prefácio

            Angústia. Talvez essa seja a melhor palavra que defina a história de Pietro. Jovem e talentoso, Pietro é um recém-formado professor que, por decisões tomadas num passado recente, mergulhou em um mundo apodrecido pelas vaidades cotidianas. Decepcionado com a sua realidade, ele inicia uma busca por respostas dentro de si e esta o leva a uma angustiante série de recordações que o fazem se sentir deslocado em seu meio.
            À medida que o tempo passa, Pietro se vê cercado por uma série de dilemas éticos que desconstroem a imagem pura e moralizadora da escola em que trabalha. Associado a isso, sua vida pessoal se mistura aos seus problemas profissionais. Indignado com o rumo que sua vida está levando, ele resolve reiniciá-la e tenta descobrir, de maneira sistemática, o ponto de partida que o levou a tamanha crise existencial.
            Esta obra consiste num conjunto de relatos registrados em seu diário encontrado por uma de suas melhores amigas, a divulgação deste consiste, numa tentativa de entender a história de Pietro. Os personagens e os ambientes narrados aqui fazem parte de uma ficciosa realidade.