Carpe Diem

E que venha a loucura

E que venha com toda a força

Força que me faça despencar das minhas próprias crenças

Crenças loucas


E que venha a fé

E que venha você

Renda-me!

Lute e enlouqueça também

Fuja da realidade

E se entregue às oportunidades...


Abandone a sua razão insana

E se afogue nesse mar de incertezas

Seja puramente profana

E que o nosso juiz seja a nossa vontade


E que o nosso controle e bom senso sejam passageiros

Viajantes de longa data

E que se percam na nossa odisséia

Na nossa aventura

Com nossa loucura

Buscando o porquê de ainda existir...

(Noturno)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

CONTINUAÇÃO DO CAPÍTULO III, PARTE 3...

Como uma cobra peçonhenta eu planejei tudo, tornaria aquela semana inesquecível para ela, e a conquistaria de uma forma que ela jamais me esqueceria. Mal eu imaginava que ela já havia sido conquistada, eu apenas não enxerguei. Após o sorvete com Alice, voltei para casa e liguei para Bianca. A muito tempo sabia que ela tinha se arrependido de ter me deixado e sabia que Miguel vivia fazendo ciúmes a ela devido ao meu relacionamento com Alice. Se existe algo que é certo nessa vida é a inveja existente na maioria das mulheres. E se eu pudesse eleger alguém como a inveja em pessoa, essa seria Bianca, as vezes parecia que a própria palavra teria sido criada para descrevê-la. De cabeça fraca, Bianca não suportava a idéia de eu ter sido um dos poucos homens a não ficar lambendo o chão que ela pisava ou idolatrando ela pelos cantos, ela era bela, mas ao mesmo tempo era feia, sua beleza física logo era descartada após apresentar a sua frágil e corruptível personalidade. Ela não tinha gostado nada nada de ter descoberto que eu estava em outra e faria o possível para me ter de volta no seu círculo de bajuladores, eu precisava apenas de uma isca...
- Buenas noches Bibi...
- Quem é hein?
- Não reconhece mais a minha voz...
- Pietro? Mentiiiiiraaa...
A surpresa foi acompanhada de risos irônicos de satisfação como se quisesse gritar ao mundo que eu era dela mais uma vez. Eu só precisava que ela realmente acreditasse nisso, ela era fundamental nos meus planos.
- O que anda fazendo a essa hora da noite em casa?! Você não é disso Bi...
- Ahh né nada não menino, é que ultimamente eu tenho preferido ficar em casa dar um tempo... Sabe como é né?
A garota era tão idiota que nem sequer percebeu que a cidade inteira a tinha visto na maior farra em cima do capô de um carro na praia... Era o assunto do momento, principalmente pelo que rolou após a festinha. Bem, isso não vem ao caso, eu precisava demonstrar interesse.
- Ah claro, eu sei bem como é isso, mas é que eu precisava te ver, te dizer algumas coisas que não tive oportunidade, você sabe que a gente não se resolveu...
- Oww Pietro não fala assim... Poxa, ninguém nunca me tratou tão bem como você um dia já me tratou, mas sei lá, eu tenho medo de me envolver...
- Vamos fazer assim, me dá uma chance de eu te provar que ainda podemos dar certo. Vai rolar uma festa na casa da Nandinha, e eu tenho certeza que você não vai querer deixar de ir... Toda escola inteira vai e...
Não foi difícil convencer aquela mula. Tudo que ela queria era ser paparicada e eu precisava fazer aquilo, mesmo que a contragosto. Estava quase tudo montado, faltava apenas um pequeno detalhe, os pais de Alice não permitiam que ela saísse a noite... Eu precisava dar um jeito nisso.
Após dois dias pensando e a seduzindo, eu precisava convencer os pais dela, não era uma missão fácil. Um homem jamais teria acesso aos pais de Alice, extremamente ciumentos, desde que eu comecei a freqüentar a casa dela, eu mal passava da porta e uma vez que ela entrasse em casa após o trabalho, só era liberada para sair no outro dia. A única solução era Miguel. Enganar meu melhor amigo, também não seria fácil, mas era necessário. Ele deixou bem claro que não iria me ajudar, eu precisava criar outra estratégia e mal ia percebendo que o número de pessoas a serem magoadas ia aumentando cada vez mais... Como eu fui tolo... Mesmo assim, eu simplesmente discava o meu celular e deixava as coisas acontecerem...

- Miguel?
- Oi cara!
- Velho, to precisando falar com você seríssimo... Tá em casa?
- Algo grave?
- Não, algo urgente. Não consigo ter raiva daquela mulher cara...
- Calma Pietro, não fica assim... Dá um pulo aqui em casa que a gente conversa.

Aparentemente ele caiu, e se não caiu, após a conversa que tivemos na casa dele, ele simplesmente omitiu... O que eu sei, é que após os fatos posteriores, Miguel nunca mais falou sobre o ocorrido comigo.

- E aew Pietro! Entra aí cara... O que tá acontecendo...?
- Cara, eu me reaproximei dela... Eu queria me vingar, mas aquele olhar... Ele me deixa louco, não consigo pensar em outra coisa... Eu quero ela pra mim. Me ajuda a conquistá-la!
- Calma aew... Esse não é o Pietro que eu conheço...Você num é de ficar se desmanchando por mulher, ainda mais pedindo ajuda. Você tem certeza que é isso mesmo?
- Velho confia em mim... Ela mudou muita coisa em mim, eu era um cara todo fechado, não queria me abrir com ninguém e simplesmente encontrei uma pessoa que consegue fazer isso, e eu sei que é ela. Eu to dividido, não vou negar! O que ela fez comigo não tem perdão, mas eu quero estar com ela, por isso queria te ouvir... Me ajuda!
- Pietro, olha para mim. Olha nos meus olhos, VOCÊ TEM CERTEZA QUE TÁ SENTINDO ISSO?
- Velho eu não sei o que eu sinto, só sei que quero ela...
- Então vamos lá: 1) Esqueça o que ela te fez. Vocês não eram nada, apenas amigos, ela não lhe deve explicações; 2) Pretende ir a festa da Nandinha? Que tal levar ela?
As coisas começavam a se encaixar e nem mesmo Miguel, enxergou minhas verdadeiras intenções...
- Pretendo sim cara, mas o foda é fazer ela sair de casa! O pai não deixa ela sair a noite!
- Ahhhh Pietro! Você tem amigos pra que? Eu ajeito tudo.
- Mas como você vai fazer isso? É simples, primeiro você convida ela, depois que ela topar, que eu tenho certeza que ela vai... Eu falo com minha irmã sair com ela para comprar roupa e tal, é a desculpa que ela vai dar ao pai.
- Como assim?
- Ouxe, você é retardado é? Eu falo com minha irmã para ligar pra ela, as duas saem pra fazer hora até anoitecer. Depois, minha irmã liga pro pai dela pedindo pra ela dormir aqui, eu a levo pra festa e os pombinhos passam a noite inteira juntos... É simples.
- E se o pai dela não deixar?
- Ahh Pietro, claro que deixa, o pai dela estudou com a minha mãe... São amigos de infância, vai ser facim facim...
O plano estava montado. Bastava agora esperar... Fiz a maior propaganda da festa, convenci dezenas e dezenas de pessoas a irem, convenci Alice do plano de Miguel, fiz tudo direitinho... Até prometi coisas que sei que jamais cumpriria, agora era só esperar a festa.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

PARTE 3: Vingança

           Corria com lágrimas nos olhos e fúria no coração. Meu corpo queimava e meu sangue fervia dentro de mim. Praguejava e a ofendia em meus pensamentos, amaldiçoava o simples fato de um dia tê-la conhecido, mal conseguia enxergar o que estava ao meu redor e também mal me importava se os carros iam ou não me atropelar. Queria sair dali, queria correr, queria sumir. Por que ela tinha feito aquilo? Por que tinha me enganado de tal forma? Como um pato eu tinha caído nas suas artimanhas, no seu joguinho de conquistar. Alice o que você fez terá um preço! Era a frase que eu repetia várias e várias vezes para mim. A confusão de sentimentos tinha se tornado certeza e a minha única certeza é que ela não valia nada e tudo que eu sentia por ela era bobagem, que ela nunca tinha dado importância para mim, eu fui apenas um brinquedo, uma marionete nas mãos dela, mas aquilo iria ter um preço e eu iria fazer com que ela pagasse, sem hesitar em momento algum, eu teria a minha vingança.
            Meus pensamentos foram interrompidos por um grito. Era Miguel! Ele correu até mim assustado, não estava entendendo nada e eu desabei em lágrimas. Minhas palavras eram balbuciadas com praguejos e arrependimentos
            - Ela me enganou Miguel, a desgraçada me enganou...
Ele mal conseguia me entender, apenas me abraçou forte e disse:
- Hoje você dorme lá em casa. Não vou deixar você ir pra casa assim, sua mãe vai pirar se te vir dessa forma... Lá em casa, com calma, você me conta tudo.
Após horas, lágrimas e resmungos, eu finalmente começava a organizar os meus pensamentos. Começava a desabafar e a contar tudo para Miguel. Ele me ouvia com atenção, a cada detalhe do que eu dizia, a cada declaração sobre o que eu sentia por ela:
- Ela já chegou a me dizer que eu a via de uma forma que ninguém a via... Dá pra acreditar Miguel? Eu virava noite com ela na rua, andávamos de mãos dadas cara! Como ela pôde ter me enganado assim?!
- Calma Pietro! Me conta tudo com calma...
- Velho, foi assim, eu fui até o trabalho dela... Como fazia na época em que ainda nos falávamos... Fui disposto a resolver minha vida com ela, a contar tudo que sentia e tal, sem medo de me expressar... Levei até flores cara?! Como eu fui idiota...
- Flores? Meu Deus, então o caso era sério...
- Não ria! Aquela desgraçada, aquela cachorra me paga...
- Conta logo e deixa de xingar a menina.
- Bem, como eu te disse, fui até lá cheio de esperanças e tal. Quando cheguei lá, ela estava aos beijos com um cara... Eu nem sei quem era e também nunca vi na minha vida... Mas era ela, eu percebi naquele beijo o quanto de sentimento estava depositado ali, era como se ela estivesse se entregando com apenas um beijo... Cara eu assisti àquilo inerte, parado, sem saber o que fazer... Daí ela abraçou o cara e pum! Outro beijo, eu nem sabia se continuava olhando ou se ia embora, nem sabia o que dizer a ela, foi quando...

- Caliente ela não?
- Pára Miguel!
- Foi só pra descontrair Mané!
- Foi quando ela me viu, minha única reação foi correr... Nem sei se foi o certo, mas o que eu poderia fazer naquela situação? Eu fui muito bobo, muito estúpido, e eu que pensava que Bianca fosse uma vadia...
-Eu te avisei... Mas não a condene ainda. Você não pode cobrar nada dela cara, o que vocês são afinal? Nada, apenas amigos...
- Miguel, você mais do que ninguém sabe, que a nossa amizade não era comum, que ela tinha deixado evidências claras que queria algo comigo.
- Mas Pietro, ela se afastou de você... Ela também deixou bem claro com isso que queria um tempo para ela.
- Não importa... Ela vai me pagar. Eu te juro que ela vai me pagar.
- O que você vai fazer?
- Se eu contar eu não faço... Apenas não tente me impedir.
- Amigão você sabe que eu sempre te apóio nas suas decisões. Eu nem sei o que você pretende fazer com ela, mas de antemão te peço calma. Não se antecipe em julgar as pessoas, você pode acabar cometendo uma injustiça.
- A minha decisão já está tomada e não quero que você participe só te peço que não se envolva.

Naquela noite eu não dormi, fiquei horas e horas rolando no colchão improvisado na casa de Miguel. Entre uma lágrima e outra, pensava na vingança. Aquilo me confortava e ocupou tanto a minha mente que eu nem tinha lembrado de avisar em casa onde eu estava. O resultado disso já é previsível... Minha mãe ficou uma possessa comigo, e após ligar 17 vezes para o meu celular, finalmente ligou para casa de Miguel, e sempre com o bom-senso dela, às 5 da matina.
Após o café segui para casa, pus a farda e segui para a escola. Mal parei em casa queria por meu plano logo em prática e para isso, precisava ter certeza que Alice não tinha me visto, porque aí ela pensaria que estava tudo na mesma, continuaria com aquele papel ridículo de boa moça dela e teria a oportunidade de me vingar.
Naquela manhã fui 8 vezes ao banheiro e 12 vezes beber água, não por estar com sede ou com vontade de urinar, mas sim porque queria encontrá-la, apesar dos esforços descobri que ela não tinha ido a escola. As poucas amigas acusaram doença, os desconhecidos sequer comentaram. O único jeito era ir ao trabalho dela... Percorrer aquele mesmo caminho no qual tinha visto tudo era torturante, cada esquina uma memória, cada memória um sintoma de dor e decepção. Mesmo assim eu fui, meu desejo de ir a desforra era muito maior, assim que cheguei fui até a recepção e lá estava ela, para a minha sorte sozinha.

- Oi menina! Será que eu posso acompanhar a bela senhorita até a sua casa? Faz muito tempo que nós não andamos juntos não é mesmo?
- Oi menino! Você nem imagina o quanto eu queria te encontrar hoje, não pude ir à escola e precisava conversar com você, te contar umas coisas...
- Não precisa me dar explicações Alice, na verdade fica até chato você me contando tudo, deixa as coisas assim, o mistério sempre foi o nosso ponto forte.
- Mas, você nem ao menos quer saber por que eu me afastei...
- Nada de, mas! Se você se afastou você teve os seus motivos, quem sou eu para questionar? Vamos tomar um sorvete que é melhor, já programei toda a nossa semana e pode ter certeza que será inesquecível.
- Tá bem então... Espero que você cumpra a sua palavra, tenho muita coisa pra te contar também, mas como você já disse, vamos deixar as coisas irem devagar.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CONTINUAÇÃO DO CAPÍTULO III, PARTE 2...

PARTE 2: Desencontros

Os meses se passavam e Alice jamais me contou o porquê da sua tristeza, mal sabia que eu era o grande culpado pelas suas lágrimas, pela sua indecisão. É interessante como esse sentimento de culpa me acompanha me atordoa e me incomoda, às vezes penso que minha mãe realmente tinha razão. Por onde eu passo nada fica de pé, nada fica normal, mas eu sabia e sei que precisava mergulhar mais naquela amizade, precisava descobrir se era mesmo paixão, eu sabia que não podia, mas o não poder também pode significar o não viver, eu sabia que precisava me arriscar. Mas assim, como Miguel havia me dito, ela foi sumindo aos poucos, desvanecendo ao ar como uma nuvem que vai se fragmentando ao céu... Quanto mais eu a procurava mais eu me tornava cego, obcecado. Eu sentia frio com o seu abandono e não conseguia discernir o concreto do abstrato, imaginava um milhão de possibilidades, mas não conseguia formular uma simples resposta, até porque minha pergunta favorita já se tornava eco: Alice onde está você?
Após alguns dias eu a vi voltando para casa. Sozinha, aparentemente abatida, Alice não olhava para trás. Pronunciei o seu nome, e ela simplesmente continuou caminhando. Não suportei aquilo e acelerei o meu passo, alcançando-a dessa maneira, segurei-a pelo braço e assim que pude mais uma vez admirar aqueles olhos...
- O que está acontecendo com você? Não retorna as minhas ligações, me evita ao máximo na escola, por que isso tudo?
Alice pôs as mãos no meu rosto e me olhou firme, nunca me esquecerei daquele olhar profundo, daquele pedido desesperado por ajuda, que eu jamais pude entender. Eu fui egoísta, eu fui bobo e acima de tudo, eu fui infantil. Após me olhar daquela forma, eu simplesmente fechei os olhos quando ela os acariciou, ela encostou os seus lábios no meu rosto e sussurrou algo que ainda me pergunto o que realmente significaria...
- “A amizade é um amor que nunca morre”... Espero que um dia você me entenda.
Ela sorriu meio sem jeito e continuou andando e eu ainda estático com aquilo fiquei uns 10 minutos parado no meio do nada, sem entender ao certo, o que ela quis dizer... Para ser sincero, como já falei anteriormente, até hoje eu não entendi.
Caminhava para casa com dúvidas e sentimentos em minha mente. Não entendia porque Alice tinha fugido daquela forma, nem sequer me respondeu, apenas sorriu e continuou caminhando. O que diabos ela tinha? Bem, ela iria me contar a qualquer momento, eu tinha certeza disso, ou pelo menos achava que tinha.
            Os dias foram passando lentamente e eu não tinha muitas notícias sobre Alice, às vezes a via no trabalho dela quando ia comprar passe-escolar, mesmo assim, ela mal me olhava, evitava-me como se eu fosse um estranho. E eu também não queria ser chato e ligar pra ela toda hora, talvez ela quisesse ficar sozinha, apenas sozinha, eu precisava respeitar aquilo, não podia simplesmente invadir a vida de uma pessoa só por me sentir sozinho, afinal de contas eu não era nada na vida dela, não passava de um qualquer que a tinha conhecido de forma acidental e tragicômica, eu precisava esperar ela vir até mim, mesmo que isso fosse extremamente doloroso.
            O celular toca e eu corro esperando ver o nome dela, mas não era nada, apenas Miguel me chamando para jogar bola, eu não tinha motivação para andar pela casa, quanto mais para jogar bola. Putz, porque caralho ela resolveu sumir assim? O que eu tinha feito de errado? Não me lembro de ter cometido crime algum...
            Toda mensagem que chegava ao meu celular, ou qualquer aviso que eu recebia, eu torcia com todas as forças para que fosse ela. Eu mal tinha percebido o quanto ela pertencia a minha rotina, e isso foi do nada, de repente ela estava em mim e com a mesma velocidade tinha desaparecido. É interessante como a ausência nos traz respostas. O silêncio é extremamente esclarecedor e quanto mais ele fica impregnado ao nosso redor, mais nós aprendemos sobre nós mesmos e sobre tudo que nos acompanha, e foi naquele silêncio, naquela solidão, que eu percebi a falta que ela me fazia. Ninguém poderia ocupar o espaço dela na minha vida, eu que pensava que tudo que diziam sobre essa sensação fosse enxamezinho ou drama de pessoas carentes, mas percebi que estavam certos. A vida perde a cor, nada tem graça e a gente tem aquela sensação de que nada mais tem sentido. Mas puta que pariu! O que eu fiz a ela? E por que sentia tudo aquilo em tão pouco tempo? Teria eu errado? E se tivesse, será que eu era merecedor de tal tratamento, de tal frieza?! Eu simplesmente não tinha respostas, praguejava ao frio da noite e olhava pro celular segurando o meu orgulho para não ligar para ela, para não me mostrar frágil e dependente. Se pudesse falar com ela... Se pudesse olhar para ela... Ela me entenderia, me diria o que havia de errado... Mas eram tantos “se’s” que eu já estava confuso demais. E o pior, minhas dúvidas caminhavam numa única conclusão, eu a amava... Sempre achei essa palavra piegas, cheia de apelos sentimentais, mas era fato, eu a amava e não sabia como reagir a isso, muito menos como solucionar tal situação. Precisava falar com ela, mas sabia que não podia estragar tudo, não podia chegar do nada e dizer “Oi Alice, eu te amo...” seria sem nexo e é claro, absurdo. Precisava fazer algo, precisava ir atrás dela, era a única coisa que meus pensamentos e o meu coração exigiam naquele momento e eu o faria, com certeza o faria.
 Entre as minhas piores frustrações residia o nome ALICE, talvez saber que fui eu o responsável pela sua maior mágoa, fazia de mim o vilão e o não o cavaleiro do conto de fadas que ela tanto sonhou, foi com ela que eu aprendi pela primeira vez que somos inteiramente responsáveis pelos nossos atos, pelas nossas decisões e é claro, pelas nossas escolhas.

domingo, 15 de janeiro de 2012

CONTINUAÇÃO DO CAPÍTULO III...

Em meio a sorrisos sinceros e confidências não tão sinceras, mergulhávamos naquela confusa amizade. Se procurássemos uma explicação racional para aquilo, com certeza não encontraríamos. Não, não tínhamos um caso, acho que nem sabíamos ao certo o que era aquilo, apenas sabíamos que era muito bom estar próximo um do outro. E de qualquer maneira, era bobagem pensar na possibilidade de algo ir além daquela colorida amizade, compromissos e obrigações nos distanciavam. Talvez mais obrigações do que compromissos. Mesmo assim, aquilo não era uma preocupação aparente, naquele momento apenas as longas conversas pela madrugada a fora e os olhares despercebidos nos bastavam. Éramos jovens, éramos felizes e, sobretudo, éramos inconseqüentes.
Encontrávamos em pelo menos dois momentos ao dia. Pela manhã na escola, passávamos todo o intervalo juntos, rindo, conversando, nem eu sabia de onde viria tanto assunto e quando nós não tínhamos o que conversar, apenas olhávamos um ao outro, longos minutos, e ao mesmo tempo muito curtos. O intervalo passava rápido e logo nos separávamos. A outra oportunidade que tinha era após o trabalho dela. E eu é claro, ia muito lá, sempre no final do turno, acompanhava ela até em casa e gastava sem dó os meus passes-escolares, o custo, esse é óbvio: comecei a andar de bicicleta. Mas só o fato de vê-la, era extremamente recompensante, nossa como eu adorava o sorriso dela, aquele jeito, me deixava louco. Todos ao meu redor já comentavam sobre aquela estranha e repentina amizade e Miguel, meu melhor amigo, não podia deixar passar em branco:
- E aew menininha!
- E aew Miguelito! Por onde anda o seu namorado?
- Sai bichona, já disse que não te quero mais! Até porque estou muito satisfeito em saber que você, o frio e calculista Pietro, a pedra de gelo está apaixonadinha... Acho que já esqueceu a cachorra da Bianca...
Miguel abria aquele sorriso de canto, como se soubesse exatamente a minha reação seguinte...
- Bianca, quem é essa? Nem lembro mais... E outra quem andou lhe dizendo mentiras? Não estou com ninguém.
- Como poderia esquecer da Bianca? Não foi ela que te trocou por aquele pastel? Como mesmo o nome dele?
- Luciano. E não precisa me lembrar dela, Bianca é passado. Será que você não entende um exemplo de sentido figurado seu idiota? E você não respondeu minha pergunta! Vê se pára de rir e responde logo.
- Estou apenas te zoando...
- E você acha que eu ainda não percebi?
- Calma noivinha...
- Responde logo Miguel...
- Pietro, até parece que você se esqueceu de onde estuda! As paredes aqui têm olhos e ouvidos meu filho! Mas como você sabe que eu sou seu brother... Foi a própria Bianca que me perguntou isso, perguntou já afirmando saca?
- Ouxe e qual é a dela?
- E eu é que sei é? Você que pegou ela não sabe, como eu vou saber?!
- As pessoas cometem erros né Miguel? Vai ficar me julgando a vida toda agora?!
- Num é julgando não, mas é que você é uma cabeça-dura do caralho! Eu falo, não faça isso e você faz, está sempre fazendo o contrário do que eu te digo, depois fica aí com essa cara de cu sem saber o que fazer...
- Também não é assim amigão...
- Claro que é! E tem mais, se eu fosse você não me meteria com essa aí não, como é mesmo o nome dela? Alice né?
- Se você já sabe por que fica perguntando? E eu não tenho nada com ela... Pelo menos ainda...
- Ahh cachorro! Eu sabia! Você está de olho nela sim! Velho, a menina é uma destroçadora de corações, vem e vai do nada, fique longe!
- Como você sabe isso?
- Ouxe, através da maior fonte de informações de garotas dessa escola!
“Bianca”
- Pára com isso, ela tá falando isso por que deve tá com dor de cotovelo...
- Sei não... Bianca não é de mentir, e outra foi ela que te largou e não o contrário... De qualquer forma, fique alerta.
Eu até tentaria, mas era impossível ficar longe dela. Aquela amizade, aquelas conversas, aquele período onde há uma conquista mútua, eu e ela sabíamos disso e era justamente por isso que estávamos cada vez mais envolvidos. Os avisos de Miguel foram com certeza em vão.
 Alice era simplesmente Alice. Sua beleza maior não residia na sua aparência, mas sim no seu comportamento. Seu sorriso meigo não era produto de posturas piegas e adocicadas, semelhantes àquelas falsas garotas que fingem ser menininhas ingênuas, não que ela fosse boba ou ingênua, pois ela conseguia como nenhuma outra reunir em si a menina e a mulher. Nada de corpo esculpido de atriz de novela, apenas um corpo comum, contudo, aquele olhar, aquele sorriso era indefinidamente apaixonante. Sem dúvida alguma, ela seria a melhor princesa de qualquer conto de fadas, a minha tristeza era estar certo que em nenhuma hipótese eu seria o príncipe.
- Por que você sempre está tão pensativo hein??
- Ouxe! E agora meus pensamentos te incomodam é?
- Sei lá, você parece estar perdido no meio do nada, como se o mundo estivesse parado ao seu redor... Como se eu não estivesse aqui...
- Não é isso menina... Eu apenas... Deixa! Você não entenderia...
- Claro que entenderia! Aconteceu algo?
- Mais ou menos...
- Como assim “mais ou menos”?
- É que o que aconteceu não foi comigo e daí não sei se tenho o direito de opinar...
- E aconteceu com quem?
- Com você...
- Ahhh não, se foi comigo você vai ter que falar, até porque eu não me lembro de nada que tenha acontecido!
- Tem certeza?
- Bem, acho que sim...
- Eu te vi chorando ontem após a aula... E não é de agora, que tenho notado você pra baixo, tristinha...  Olha, eu não quero me meter, mas sei lá, não consigo ficar sem perguntar algo a você, o que aconteceu?
Ela não me respondeu, olhou fixamente em meus olhos como se quisesse me contar a história de toda uma vida, mas não emitiu sequer uma palavra, sua despedida se resumiu em um breve sorriso e eu do alto da minha estupidez não entendi absolutamente nada e fiquei atônito enquanto os passos dela distanciavam de mim, da minha vida e quem sabe até do meu já nascente romance.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

CONTINUAÇÃO DO CAPÍTULO III...

Tudo ainda era muito prematuro e eu não tinha dado um bom cartão de visitas, de qualquer forma, eu estava muito mais preocupado com os meus 200 e poucos reais, os quais naquele momento já tinha se transformado em pedrinhas de crack.
            Voltar para casa naquele momento já não era mais opção. Eu nem imaginava com iria explicar o assalto e a perda da mochila, iria ser um verdadeiro inferno, minha mãe reclamando, eu tentando explicar e a certeza que naquele mês ir a escola seria um verdadeiro martírio. Como não tinha opções, resolvi seguir a menina, não tinha mais nada a perder mesmo, e ela tinha sido tão gente boa comigo, seria rude da minha parte não dar atenção a ela, mesmo que eu fosse péssimo em dar atenção a qualquer coisa que fosse.
            - Pronto, chegamos! Eu vou buscar água para você. O banheiro é logo ali, vai lavar esse rosto que eu te faço um curativo. Sua mãe não vai gostar de vê-lo dessa forma.
            - Acredite, ela não vai nem notar. Num precisa pegar água não...
            - Relaxa garoto, água não faz mal a ninguém, desde que nós não estejamos nos afogando...
            Nós rimos juntos e quando menos percebi já pronunciávamos palavras juntos, ela contou sobre a vida dela, sobre como era terrível trabalhar na venda de passes. Muita gente grossa, muita gente mal-educada, enfim muita gente. Eu não falei sobre mim, não via nada de interessante em falar sobre mim, mas adorava ouvi-la, conhecê-la. Vez ou outra contava para ela algumas situações da minha vida, coisas rotineiras e também um tanto engraçadas, era interessante o fato de como nossos gostos se batiam. Cinema, ambos éramos fascinados por ele. Ela me dizia que a magia que ele transmitia era simplesmente encantadora. Sobre várias outras coisas conversamos e o tempo passava de uma forma impressionante. Ela, assim como eu, era fruto de pais separados, história triste e intencionalmente curta, nunca é bom falar sobre isso, eu mais do que ninguém sabia. Sabe aquela sensação de que o dia não foi em vão, era como se os meus problemas estivessem resolvidos e a tranqüilidade que ela me trazia era extremamente aconchegante, e a paz que ela me trazia, nossa! Era bom, muito bom estar com ela...
            Mas como todos nós sabemos nada que é bom pode durar muito tempo, já era noite e eu infelizmente precisava ir para casa. Encarar aquela multidão de reclamações, eu não conseguia entender porque minha mãe reclamava tanto. Nada estava bom o suficiente para que ela ficasse em silêncio por alguns instantes e eu sabia que depois do ocorrido ela iria me perguntar dezenas de vezes a mesma coisa. Aquilo sim, me deixava cansado, sufocado.
            - Onde você estava até essa hora menino?
            - Eu estava...
            - Ué, onde diabos está o seu tênnis? O que aconteceu? Isso na sua camisa é sangue? Brigou de novo menino?! Mas que merda você não faz nada que preste! Comprou os passes?
            - Mãe eu fui assalt...
            - Não me importa o que você fez! Eu quero que você dê conta dos passes e do dinheiro! Você acha que eu trabalho para manter os seus luxos é?
            - Será que a senhora pode me ouvir?
            - Não tenho nada para ouvir de você seu moleque! Fica se envolvendo em confusão como se fosse um galo-de-briga! Quem você pensa que é?! E nem adianta me olhar dessa forma, essa sua cara-de-bunda não me incomoda e quer saber mais, sai da minha frente!
            - Com prazer senhora!
            Agora imagine essa ladainha todos os dias, por quaisquer motivos que fossem, era sempre assim, eu sempre estava errado por alguma razão que nem eu sabia ao certo. Sem o dinheiro, restava a mim, pegar a bike para ir à escola. Contudo, naquele dia, mesmo após a surra, mesmo após o assalto, eu me sentia estranhamente bem. Alice era o nome dela, e aquele nome já invadia os meus pensamentos com boas recordações.
            Não demorou muito e nos reencontramos várias vezes, as conversas sempre ao fim da tarde após o expediente dela no estágio. O fato de estudarmos na mesma escola também facilitava os nossos encontros, o curioso é que eu nunca tinha reparado nela antes, acho que porque eu nunca tinha reparado em ninguém antes, como disse, naquela escola nada me agradava. O pôr-do-sol tornava o clima agradável e a cada conversa que tínhamos aumentava ainda mais o desejo de conversarmos. Poxa, onde ela estava escondida por tanto tempo? Eu não me lembrava de ter conhecido alguém que me deixasse tão a vontade como ela. Garota compreensível entendia as minhas dúvidas e desvendava o meu olhar como ninguém, como diz o poeta, “quem não entende um olhar, tampouco entenderá uma longa explicação” e nós passávamos horas nos olhando como se estivéssemos tendo uma longa conversa só com o olhar, desvendando pensamentos, curiosidades e, sobretudo, desejos. E eu descobri, mesmo que de uma forma extremamente estranha, que tinha encontrado uma grande amiga, mal eu sabia que ela seria o meu grande amor.

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