Carpe Diem

E que venha a loucura

E que venha com toda a força

Força que me faça despencar das minhas próprias crenças

Crenças loucas


E que venha a fé

E que venha você

Renda-me!

Lute e enlouqueça também

Fuja da realidade

E se entregue às oportunidades...


Abandone a sua razão insana

E se afogue nesse mar de incertezas

Seja puramente profana

E que o nosso juiz seja a nossa vontade


E que o nosso controle e bom senso sejam passageiros

Viajantes de longa data

E que se percam na nossa odisséia

Na nossa aventura

Com nossa loucura

Buscando o porquê de ainda existir...

(Noturno)

sábado, 17 de março de 2012

CONTINUAÇÃO CAPÍTULO IV: SOLIDÃO...

O sol nasceu. Fui para casa, queria dormir, queria esquecer. Numa tentativa vã de apagar aquelas lembranças ruins. Ao chegar à portaria, aguardavam-me: meu celular e vários recados. Não queria encontrar ninguém, queria mudar, mas não sabia como. Apenas sabia que teria que fazer aquilo sozinho e que não seria fácil. Fechei a porta e as minhas lembranças, após deitar deixei que meus sonhos encontrassem respostas.
            Alguém já tentou definir “solidão”? Se buscarmos no dicionário provavelmente encontrará “Estado ou condição de quem se sente ou está só”. Mas o que era aquilo afinal? O que era estar só? Eu vivia repleto de pessoas e ocupado de tal maneira que jamais deveria sentir aquilo, no entanto era o que eu mais sentia. Sentir e não saber o que se sente. Será que era solidão mesmo? Ou seria carência? Dependência sentimental ou até mesmo necessidade de auto-afirmação. Existem pessoas que se consideram solitárias apenas por acharem elegante serem solitárias. Também há pessoas que sorriem para todos e ficam aos prantos quando estão sós. Eu não era nenhum dos dois. Sabia disso.
            Às vezes procuramos por coisas uma vida inteira e no final das contas tudo isso está bem diante de nós. Não queria ser aquele que se lamenta por algo a vida inteira, contudo, não queria deixar mágoas não curadas para trás. O que é se sentir só? O que é estar só? Na maioria das vezes vivemos ao lado de alguém e continuamos sozinhos. As pessoas têm medo da solidão, eu tenho medo dela. Na verdade, eu tenho medo de me habituar a ela. Trancado em meu apartamento, fui percebendo que a resposta para as minhas indagações não estavam em dicionários ou pesquisas de Google. A solidão é sorrateira, não iria se apresentar tão simplesmente. E fui percebendo no mudar de canais que nós nascemos e morremos sozinhos, talvez daí estivesse à justificativa para explicar a nossa imensa necessidade de vivermos ao lado de alguém. A prova concreta de que se está entediado é quando abrimos a geladeira para pensar e naquele fim de semana eu a abri várias vezes. E pude perceber que a solidão é sim algo palpável, ela corresponde ao controle remoto desgastado em suas mãos, ela é o seu quarto que se aperta diante de você, ela pode ser milhares de coisas, até mesmo um notebook no meio da madrugada. Contudo, a solidão também é algo abstrato, imaterial, algo que só se percebe quando já estamos embebidos por ela. É um feitiço, é uma bebida, é um sonho e quando menos percebemos estamos tão presos que nos tornamos parte dela, como numa relação mãe-filho.
A solidão poderia ser muitas coisas, aquelas que invadem sua vida e se agarram a ela de uma maneira indescritível e inseparável, você se torna dependente dela e ela se torna a grande responsável pelas suas lágrimas. Defendemos-nos dela, afirmando para ela própria que aquilo não é solidão, que é independência, ou até mesmo para torná-la poética, nomeamo-las de liberdade. Pura tolice, pura bravata, no fundo sabemos dolorosamente que isso é uma meia-verdade e toda meia-verdade é uma mentira completa e que o amante da liberdade é um eterno companheiro da solidão e justamente por isso que, para mim, a solidão era unicamente o silêncio.