Carpe Diem

E que venha a loucura

E que venha com toda a força

Força que me faça despencar das minhas próprias crenças

Crenças loucas


E que venha a fé

E que venha você

Renda-me!

Lute e enlouqueça também

Fuja da realidade

E se entregue às oportunidades...


Abandone a sua razão insana

E se afogue nesse mar de incertezas

Seja puramente profana

E que o nosso juiz seja a nossa vontade


E que o nosso controle e bom senso sejam passageiros

Viajantes de longa data

E que se percam na nossa odisséia

Na nossa aventura

Com nossa loucura

Buscando o porquê de ainda existir...

(Noturno)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

CAPÍTULO 4: SOLIDÃO

            - Você continua o mesmo Pietro... Não consegue pensar e falar ao mesmo tempo. Como você está? Fiquei sabendo que você virou professor... Literatura hein? Quem diria?
            Alice fitava seus olhos em mim como se me enfeitiçasse. Eu não entendia aquilo, não entendia porque Miguel e Nanda fizeram aquilo comigo. Estava aterrorizado, por mil vezes imaginei aquela possibilidade, por mil vezes pensei em discursos, pedidos de desculpas, explicações... Mas tudo aquilo era desnecessário naquele momento. Depois de tanto hesitar, respondi de forma quase monossilábica:
            - Sim. Ninguém esperava por isso não é mesmo Miguel?
            Olhava para aquele desgraçado e ele sabia que eu estava puto, sabia que não tinha gostado nem um pouco daquilo e que logo logo a situação iria ficar incontrolável. Miguel não era trouxa, nem fazia brincadeiras daquele tipo, ele sabia como Alice me afetava, mas dessa vez ele saiu de todos os limites possíveis. Depois de vários minutos em pé, Miguel resolveu quebrar o gelo e convidou meio que sem jeito a todos para sentar. Nanda reforçou a proposta e lá estávamos nós: Miguel, Nanda, Alice e eu que no mínimo seria o sinônimo da aflição.
            - Fiquei sabendo que o Pietro é a nova sensação da cidade. Isso é verdade Miguel?
            - Nem te conto Alice, meu menino tá arrasando nas aulas, todos estão comentando. Sair com ele é quase que sair com um pop star. Toda hora sai um aceno do tipo “oi tio”, “oi professor”. É algo extremamente hilário.
            - E você Alice? Por onde andou?
            - Miguel não te contou?
            - Contou o que?
            - Eu saí da cidade Pietro. Fui morar fora, e voltei apenas para resolver assuntos pendentes. Sou advogada agora e trabalho para uma empresa em São Paulo.
            - Nossaaaa, menina você cresceu hein?
            - É Nanda, depois que meu pai faleceu, eu resolvi sair daqui. Essa cidade me sufocava e ir embora significava um novo começo para mim, foi a melhor opção.
            Eu não agüentava aquilo. Olhava para ela dos pés a cabeça, nem conseguia me conter e percebia que tudo havia mudado que definitivamente eu tinha perdido tudo em sua vida, ela não era mais aquela garota que outrora havia conhecido, era uma mulher. E eu, estupidamente inocente, ainda sonhava com algo que não existia mais. Nós, seres humanos tendemos as essas coisas. A gente simplesmente estereotipa algo e guarda aquilo como permanente, buscamos incansavelmente reconquistarmos algo que na verdade, nunca possuímos. Eu sempre sonhei em tê-la de volta, aquela noite me provou que eu nunca a tive e que pior, eu não significava nada para ela. Antes eu fosse odiado, mas ser apenas indiferente me doía como marteladas repetidas em meu coração.
            Após alguns minutos, resolvi ir embora. Sabia que não podia simplesmente avisar ao Miguel, ele nunca permitiria que eu saísse dali. Eu tinha certeza que ele pretendia me provar algo, contudo, aquela prova era demasiadamente dolorosa para que eu pudesse suportar. Avisei que ia ao banheiro, discretamente peguei minhas coisas, esqueci meu celular de propósito e sorrateiramente saí, a palavra mais correta seria a fuga, mas a gente apenas foge de algo que nos persegue e naquela ocasião específica eu sabia que Alice, definitivamente, não me perseguia.
            Não voltei para casa de imediato, fui caminhando pelas ruas vazias e me senti tão vazio quanto elas. A escuridão e o silêncio faziam com que minhas lembranças voltassem à tona cada vez mais fortes, cada vez mais dolorosas. Não chorei. Entretanto não estava feliz, meus pensamentos foram me conduzindo por caminhos tortuosos e quando eu dei por mim, já estava próximo da Orla. Talvez o mar me trouxesse respostas.
            Durante horas fiquei parado olhando para o mar e o seu vai e vem me conduziam a idas e vindas nos meus pensamentos. O que diabos eu fiz com a minha vida? Solitário, taciturno, mal-humorado e, sobretudo, amargurado. Percebi que já faziam quase 3 anos que eu não falava com a minha mãe, e que meu único amigo de infância, aquele que ainda estava ao meu lado era Miguel. Percebi que ser independente economicamente me fez enfrentar desafios e queimar etapas na minha vida que agora eu tentava angustiantemente retornar. Eu era infeliz. Pelo menos naquele momento eu estava infeliz. E precisava mudar isso. Só não sabia como, precisava pensar, precisava encontrar uma solução.

Nenhum comentário:

Postar um comentário