Carpe Diem

E que venha a loucura

E que venha com toda a força

Força que me faça despencar das minhas próprias crenças

Crenças loucas


E que venha a fé

E que venha você

Renda-me!

Lute e enlouqueça também

Fuja da realidade

E se entregue às oportunidades...


Abandone a sua razão insana

E se afogue nesse mar de incertezas

Seja puramente profana

E que o nosso juiz seja a nossa vontade


E que o nosso controle e bom senso sejam passageiros

Viajantes de longa data

E que se percam na nossa odisséia

Na nossa aventura

Com nossa loucura

Buscando o porquê de ainda existir...

(Noturno)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Capítulo 8: Sobre estranhos e desconhecidos


Parte 1: Angústia         

Fria. Sua mensagem transmitia um ar formal, semelhante a uma convocação ou a uma exigência. Aquilo não era do feitio de Alice, pelo menos não da Alice que eu conhecera, possivelmente os anos devem ter transformado-a em outra pessoa, outra mulher. O que ela esperava de mim? Eu mal poderia imaginar, mas naquele momento pensei que teria sido melhor se a mensagem pertencesse a Dalila.
As palavras contidas na mensagem me conduziram para um estado de paralisia. Meus pensamentos, meu raciocínio, tudo suspirava o nome Alice... Esse nome era um fantasma que me atormentava desde adolescente, e eu sabia que nada havia ficado no lugar com o retorno dela a Aracaju, algo dentro de mim tinha desmoronado com o encontro no Casarão. O que não esperava era ela querer conversar comigo, meu Deus... O que ela poderia querer? Não estava preparado para isso, e tinha plena convicção que toda essa situação estava fora do meu controle, mal imaginava o que poderia dizer a ela ou o que ela pretendia dizer para mim.
Caminhei para o carro trocando os passos, confuso, não sabia se deveria retornar ou apagar a mensagem. A ansiedade de querer revê-la se misturava ao temor de ter que confrontar os meus próprios demônios. Era como se os erros do passado retornassem para cobrar a sua cota, e no fundo, eu sabia que teria que pagar essa conta uma hora ou outra. Arranquei o carro e mal dei boa noite as pessoas que estavam ao meu redor. Suava frio e a cada parada no sinal olhava para o celular desejando que nada daquilo estivesse ali, tudo bem, uma parte de mim queria, mas não daquela forma. Confrontar Alice, conversar com ela, foi tudo que eu sempre quis durante anos e agora que eu tinha essa oportunidade, simplesmente não sabia o que fazer. Nunca um celular fora um martírio tão grande, uma dúvida que me fazia se sentir um inexperiente menino. De fato, Alice não era mais Alice, ela era um anjo negro que com um belo sorriso viera cobrar os meus pecados, estava na hora de encarar essa realidade.
Mesmo assim, algo dentro de mim discordava de toda a minha suposição. Não sei bem ao certo, mas o temor que aquela mensagem me causara não era só motivado pelos problemas que tive com Alice no passado. É difícil explicar, mas algo estava estranho. Ela não era de mandar recados! Não dava para entender. E se assim o fosse, por que ela não me procurou antes? Poderia ter feito isso através de Miguel. Pronto! Ligar para Miguel e me informar sobre tudo era uma excelente ideia! Como não pensei nisso antes?
O telefone toca. Uma, duas, três e até quatro vezes... E como esperado, ele não atende. Será que estaria envolvido nisso? Será que esse era mais um plano para me aproximar de Alice? Ou poderia ser algo pior... Do jeito que ele tem a “boca grande” poderia ter soltado algo para ela, poderia ter contado sobre o meu isolamento, minha solidão após a sua partida. E se isso tivesse tocado ela? Se ela agora estivesse disposta a me ouvir, dar-nos uma segunda chance? Só de pensar isso eu já me enchia de esperanças. Não! Eu não poderia me permitir a sentir isso outra vez, entretanto, todos nós sabemos que isso é inevitável, não é?
Nem percebi e já estava estacionado no meu condomínio. Os últimos dias tem se tornado flashs na minha vida e a sensação que eu tinha era que tudo acontecia de uma maneira que eu me sentisse sonhando dentro de outro sonho. Alice, Dalila, trabalho, vida... Eram tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, e mal sabia como administrar tudo isso, digerir toda essa confusão e angústia sentimental. Nos quase 40 minutos que levei para chegar em casa só estive consciente no máximo por uns dois, totalmente mergulhado em minhas dúvidas não sabia ao certo que decisão tomar. Era engraçado, no mínimo estranho, mas sempre que eu precisava tomar uma decisão era algo que tinha que ser na “bucha”, no “vai ou racha” e azarado do jeito que era... As coisas na maioria das vezes acabavam rachando. É meu amigo, existem coisas que só acontecem comigo.
Mergulhei no chuveiro esperando que a água limpasse minha mente e transportasse com ela os meus medos, os meus anseios e as minhas angústias. Contudo, o celular continuava ali, com pontos piscando para demonstrar que existiam assuntos não resolvidos, dúvidas não esclarecidas. Tentei não olhar, tentei esquecer, mas era impossível, pareciam marretas ribombando em meus pensamentos. Tentei comer e até dormir, mas nada e ainda eram 8 da noite. Liguei a televisão e passeei pelos canais, para o meu desespero não encontrei nada, caminhei pelo quarto, pela sala e como era de se esperar o apartamento ficou ainda menor, a sensação de sufoco voltara e meu corpo já começara a transpirar. Peguei o celular e resolvi acabar com essa “porra” de uma vez. Mas antes de apertar a primeira tecla joguei-o no chão... O que eu iria dizer a ela? O que iria falar?
            Não aceitava ter tanto medo assim. Por que estava me sentido daquela maneira? Por que tanto medo? Peguei o celular novamente, disquei os números, cada tecla soava para mim como um caminho sem volta, restava apenas o último ato, uma última tecla. Desliguei mais uma vez. A indecisão circundava a minha mente e esse ir e vir, ligar ou não ligar me deixava alucinado. Tentei beber água, precisava me acalmar, puta que pariu! Era só uma ligação e eu estava daquele jeito e imagine se estivesse diante dela. Mas não, eu precisava resolver aquilo, não podia aguardar mais, corri para o celular e disquei tudo de novo sem pestanejar, restava a última tecla, bastava aperta “send” e colocaria um fim naquilo. Meus dedos tremiam a cada milímetro de aproximação, era só um toque, bastava isso. Contudo, o celular dispara na minha mão, o número não era estranho, restava atender. Seria ela? Cansada de esperar, estaria dando o primeiro passo? Bem, só havia uma forma de descobrir isso!

            - Alice?
            - Pietro! Até quando pretende fugir de mim? E não, eu não sou Alice. Não reconhece mais a minha voz?
            - Desculpe-me, quem é?
            - Vejo que a nossa sociedade precisa amadurecer. Encontre-me as nove no hall do Hotel Radisson. Teremos uma reunião emergencial hoje.
           
            Dalila. Não sabia se esse nome indicava frustração ou temor, de um jeito ou de outro ela sempre vencia e como de certa forma eu já esperava, mais uma vez me via envolvido nos planos dela. O que fazer? Bem, não restavam muitas opções. Ao menos, eu adiaria o assunto Alice por algumas horas.

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