Carpe Diem

E que venha a loucura

E que venha com toda a força

Força que me faça despencar das minhas próprias crenças

Crenças loucas


E que venha a fé

E que venha você

Renda-me!

Lute e enlouqueça também

Fuja da realidade

E se entregue às oportunidades...


Abandone a sua razão insana

E se afogue nesse mar de incertezas

Seja puramente profana

E que o nosso juiz seja a nossa vontade


E que o nosso controle e bom senso sejam passageiros

Viajantes de longa data

E que se percam na nossa odisséia

Na nossa aventura

Com nossa loucura

Buscando o porquê de ainda existir...

(Noturno)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Continuação do capítulo 8


Parte 2: Surpresa?

            A chuva continuava a cair, e misturada à noite parecia anunciar que ainda existiam surpresas por vir. Não poderia concentrar meus pensamentos em Alice, pois havia um problema muito maior para ser solucionado, mesmo assim, era muito difícil não pensar nela.
Enfrentar Dalila seria algo completamente novo para mim. Eu sempre admirei a perspicácia dela, uma mescla de beleza, inteligência e sedução, e acredite quando eu falo capacidade de sedução, eu me refiro a um poder incrível de conquistar tudo aquilo que ela deseja. Começou muito nova na Escola e soube como ninguém desvendar as manhas e segredos daquele lugar, bem articulada sempre alcançou os seus objetivos e rapidamente deixou de ser professora do ensino fundamental para se tornar membro da equipe da tão disputada turma de medicina. Dalila sabia jogar e de certa forma, quando eu entrei na Escola me espelhava nela para crescer. O mais irônico é que o destino agora nos pusera numa situação onde ambos tentariam usar um ao outro para alcançar os seus objetivos. Mestre e discípulo se enfrentariam muitos feridos seriam formados nessa batalha, talvez eu fosse um deles, talvez...
A capacidade de manipulação de Dalila era incrível. Ela era a única que faltava quando queria o trabalho, escolhia as turmas que lecionaria e tinha atendimento vip do nosso ilustríssimo e patético coordenador. De certa forma eu entendia como ela conseguia isso, mas nunca procurei me aproximar demais dela, como disse, Dalila era muito perigosa. O mais estranho era que eu não conseguia vê-la apenas como vilã, às vezes me divertia com a forma que ela ridicularizava o coordenador Maurício Nascimento sem que o imbecil sequer notasse isso, mas também percebia que ela tinha capacidade de fazer isso com qualquer um. É meu amigo, ninguém é totalmente bom ou totalmente mau, carregamos dentro de si, anjos e demônios prestes a agir. A sua influência sobre as decisões da diretoria impressionavam a todos, a forma como ela e Eva se tratavam era algo no mínimo estranho, talvez Eva fosse a única ali capaz de vencê-la e talvez fosse isso que Dalila temesse, daí buscar reforços, se é que eu pudesse ser visto assim, para enfrentar a onipotente diretora.
Será que Dalila percebera as minhas intenções? Será que ela desejaria usar a minha raiva ao seu favor? Ainda assim, eu tinha plena convicção de que não ofereceria perigo a Escola, por que então me escolher? Eram muitas perguntas e nenhuma resposta. Somente aquela reunião poderia acalmar os meus nervos.
Outra marca de Dalila bastante presente era o seu gosto por coisas extravagantes. Ela adorava requinte e luxo, acredite, a escolha pelo hall do Hotel Radisson não foi aleatória. Ela gostava daquilo, imprimia a si mesma uma condição que no fundo tentava diferenciá-la dos demais, a riqueza. Acontece que ela tinha basicamente a mesma origem que nós, então por que tanta extravagância? Talvez isso pudesse ser uma arma utilizada contra ela. Isso mesmo! Ela poderia ser derrotada pelo sua ambição. Restava a mim, manipulá-la a esse ponto e com isso, sair de uma vez por todas daquele mundo. Desafio fácil não é mesmo?
Estacionei o carro, o hotel está diante de mim, e ainda assim eu continuo paralisado pelas minhas dúvidas, sufocado pela minha mente e angústias, Alice não me sai da cabeça e Dalila está diante de mim, aguardando friamente a minha chegada. Ainda não consigo vê-la, mas posso senti-la bem próxima de mim. Aguardo alguns vários minutos, ensaio falas, planejo, penso, entretanto isso é completamente em vão. Lá estava eu, diante de uma das pessoas mais inteligentes que já conheci, prestes a enfrentá-la e ainda assim não sabia absolutamente nada, muito menos como agir. O tempo passa, o carro me sufoca e a expectativa criara em torno de mim um ar pueril, sentia-me como um animal preparando-se para o abate. O celular vibra e interrompe minha pseudo-concentração, é ela... Eu sei. Não há mais como evitar, preciso descer e acabar logo com isso.

- Por acaso está vindo de ré?
- Eu já cheguei. Onde você está?
- No mesmo lugar que nós marcamos a 1 hora atrás.

A irritação em sua voz demonstrava uma certa fraqueza. Dalila sempre teve tantos sob o seu controle, e eu era o único que até então jamais o estivera. Talvez isso acabasse hoje, talvez eu me tornasse mais um dos seus lacaios. Seria realmente esse o caminho correto? Muitas dúvidas, poucas certezas. Já estava me habituando a isso. Se ao menos eu soubesse quais eram as estratégias dela... Se eu pudesse descobrir os seus reais planos... Enfim, aquilo não seria possível, pelo menos não naquele momento. Era preciso enfrentá-la ou simplesmente me mostrar disponível para os seus objetivos.
Caminhei alguns passos e logo estava dentro do Hotel, toda aquela opulência um dia já me serviu como um banquete de ilusões, mas naquele momento, representava para mim apenas facetas de uma realidade repleta de contradições. Dalila gostava disso, sentia prazer em ter poder, aquela sensação para ela era talvez melhor do que sexo, e era possível perceber isso nos seus olhos. Cada ordem, cada subordinado que passasse pelas mãos dela conhecia exatamente o seu perfil, a mulher gostava de mandar e demonstrar isso através da riqueza era uma de suas formas favoritas. Estar ali, naquele ambiente repleto de empresários a fazia se sentir membro honorário da alta sociedade aracajuana, eu não conhecia bem a história dela, meu primeiro passo seria esse. Contudo, era preciso oferecer a minha alma para ela como barganha pela minha independência.

- Senhor?
- Pois não?
- A senhorita Dalila o aguarda na sala de reuniões. Queira-me acompanhar.

Era incrível. Ela preparara tudo, eu tinha absoluta certeza que ela criara aquele ambiente para me impressionar, ao certo Abel no meu lugar já estaria igual a um pequeno poodle servindo e agradando a sua senhora, eu podia até imaginar a cena. Não cairia nisso, não me deixaria iludir mais uma vez. Não sou mais o garoto que a Escola conseguiu seduzir.
Dirigi-me ao elevador panorâmico acompanhado pelos funcionários do hotel. Foram oferecidos drinks e uma série de mimos que eu não aceitei, queria estar bem lúcido diante dela. E não seriam bebidas e guloseimas que tirariam meu foco. Minha mente começava a se direcionar para o diálogo com ela e eu já quase me sentia preparado. Afinal de contas, o que ela poderia fazer? E mal desci do elevador e já me sentia o próprio Júlio César ao entrar em Roma.

- Queira-me seguir, senhor. A sala é logo ali.

Estou diante da porta. A hora é agora, não há mais como voltar atrás. Eu negociaria com ela, envolver-me-ia num outro investimento por três anos. Esse era o tempo que eu precisava para juntar a grana necessária e cair fora daquele mundo, se Dalila iria lucrar com isso, pouco me importa. Se a Escola iria perder com isso, que seja, desde que no final de tudo eu pudesse sair daquilo. Girei a maçaneta fria, minhas mãos não tremiam mais, contudo ainda estavam suando, respirei fundo e entrei...

- Que demora hein Pietro? Eu e minha advogada já estávamos quase indo embora!
- Advogada? Alice?

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