Carpe Diem

E que venha a loucura

E que venha com toda a força

Força que me faça despencar das minhas próprias crenças

Crenças loucas


E que venha a fé

E que venha você

Renda-me!

Lute e enlouqueça também

Fuja da realidade

E se entregue às oportunidades...


Abandone a sua razão insana

E se afogue nesse mar de incertezas

Seja puramente profana

E que o nosso juiz seja a nossa vontade


E que o nosso controle e bom senso sejam passageiros

Viajantes de longa data

E que se percam na nossa odisséia

Na nossa aventura

Com nossa loucura

Buscando o porquê de ainda existir...

(Noturno)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Continuação do Capítulo 7


Parte 3: A mensagem

            O sinal tocou e de qualquer maneira eu já me sentia incomodado de estar na sala dos professores, sentia-me constantemente vigiado. Subi os degraus com velocidade e parti para a aula, de certa forma, mergulhar em autores já falecidos me libertava do cotidiano, a aula me tornava livre e por mais que viesse a odiar estar na escola, lecionar era para mim um suprimento necessário para a vida. Na maioria das vezes, os alunos estavam muito mais preocupados com o show do final de semana do que abordagens culturais. Não os culpo. É da idade e eu também já fora assim um dia, contudo, dentro de mim acreditava que poderia despertar naqueles meninos uma educação para a libertação. Muitos ali mal sabiam o caminho árduo que estava por vir, outros tantos já tinham esses caminhos traçados pelos pais, mesmo assim, eu continuava a duvidar que eles estivessem satisfeitos com isso.
A verdade é que de certa forma, transformamos aqueles meninos em robôs dedicados a estudar, comer e na maioria dos casos, reclamar. Eu fizera parte daquele complô, mesmo me recusando a admitir isso, e talvez por isso buscasse agora nadar contra a maré, lutar contra o sistema ainda que isso significasse o meu fim. Eu iria perder, estava destinado a isso, ainda assim acreditava piamente que a minha queda não seria em vão. Ainda não sabia o que fazer nem muito menos o que fazer, mas já tinha certeza que o canal para tudo seria Dalila, aquela ideia ainda rondava os meus pensamentos. A dúvida maior então era: Eu seria capaz de manipular Dalila e Abel contra a escola? E o que eu pretendia fazer? Denunciar um sistema do qual eu mesmo fazia parte? Quanto mais eu buscava respostas, mais dúvidas se insurgiam contra mim.
            Naquela tarde Dalila meu cercou com o seu olhar, evitei estar próximo dela, mesmo sabendo que jamais conversaria comigo na escola. Ainda assim, aqueles olhos penetrantes me interrogavam sobre a minha decisão, olhar para ela seria denunciar as minhas intenções. Dalila era melhor do que eu, mais inteligente, mais perspicaz, extremamente objetiva, e eu simplesmente não sabia como lidar com isso. O que fazer? A priori, evitá-la completamente. Sabe como é né? Se não pode enfrentar o inimigo, fuja ao máximo dele!
            Fim da tarde, última aula, bastava terminar o assunto, fazer aquela revisãozinha básica e rumar para o meu apartamento, ou como Miguel diz, a “Fortaleza da Solidão”. De fato era, mas com o tempo, fui me habituando a isso. Durante a aula não pensava em outra coisa senão fugir de Dalila, para isso, era mais do que necessário desligar o celular. Copiei o assunto, expliquei e revisei constantemente, na maioria das vezes, o segredo estava na repetição e nas dicas dentro das questões, bastava isso e alguns termos teatrais para torná-lo uma estrela da licenciatura. Medíocre? É o que eu venho tentando dizer...
            A aula acaba e me dirijo para o mezanino com um único objetivo: ir embora o quanto antes. Contudo, uma aluna me pára com dúvidas longas e extremamente interessantes. Mal tinha notado aquela menina na sala, mas diante das perguntas dela percebi que não eram dúvidas simples e há muito tempo ela provocou algo que não sentia: Curiosidade. A chama intensa do conhecimento, toda a humanidade dependeu dela para prosseguir e sem isso, seríamos meros macacos de laboratório. Se o objetivo era ir embora rápido, bem, este fracassou. Contudo, depois de muito tempo, eu me senti necessário, não me importava mais se Dalila iria ligar, até porque dificilmente eu atenderia, a vida tem dessas coisas não é mesmo?
Quando pensamos que estamos fadados a uma rotina desprezível algo acontece e revoluciona a sua história e depois de quase uma hora tirando dúvidas e conversando sobre dezenas de autores e livros, eu queria mais, mesmo assim, não foi o meu telefone que interrompera aquela descoberta inusitada, no melhor do debate, ela precisou ir embora e de certo, era até melhor, pois professor e aluna, muito tempo em um mesmo espaço sempre dá o que falar. Despedimo-nos e prometemos novos debates e o que restou daquilo tudo foi o olhar dela, não entendi bem, mas acho que queria me dizer algo mais.
            Dirigi-me ao elevador e eu já tinha muitos problemas para resolver, um deles me espreitava em busca de respostas, a resposta. Enquanto aguardava a chegada do elevador, notei a chuva lá fora, adorava o som da água caindo no asfalto, aquele som me transmitia uma sensação de purificação, de transparência, era como se eu pudesse limpar minha alma de todas aquelas dúvidas que a cercavam. Os instantes que antecediam o elevador pareciam eternos e a tranquilidade que a chuva me transmitia ia se esvaindo no momento em que eu voltava a realidade. Pensava como a minha vida possuía, em diferentes etapas, marcos específicos. Dalila, Alice, Dona Júlia, Nina, todas elas mulheres que ocupavam a minha mente escravizando-a em preocupações e naquele instante, eu notara que tudo que havia realizado na minha vida estava de alguma forma relacionado a elas, mas o pior era constatar que há muito tempo já não era mais senhor de mim, e que talvez nunca o fora.
            As portas do elevador se abrem, ele está vazio, também pudera! Eu era um dos últimos a sair da escola, sempre mergulhado em dúvidas e tarefas burocráticas como preencher cadernetas, corrigir provas e aturar reuniões de emergência. Aliás, se existe algo que é banalizado no ambiente escolar é a palavra urgência. Tudo é realizado com enorme pressão como se todo o universo fosse cair sobre a sua cabeça se tal nota ou tal boletim ou tal apostila não saísse no prazo específico os próprios arcanjos do apocalipse desceriam dos céus para te cobrar, ouvi dizer certa vez que foram buscar o resultado de uma prova no quarto de hospital, onde o professor se recuperava de uma leve cirurgia.
Eu até entendo a importância de se respeitar prazos, mas a forma que esse respeito ou temor era adquirido apresentava-se para mim como algo completamente desnecessário. A sensação presente era que todos deveriam se sentir constantemente ameaçados e na minha visão aquilo era interessantemente estratégico, pois sob ameaça, ninguém questionaria os problemas internos da escola, ou seja, seus péssimos salários, o assédio moral, a incômoda relação entre alunos, pais e professores e, sobretudo, a sua estrutura pedagógica pautada numa segregação intelectual e simbólica, onde os alunos são iguais, mas uns eram mais iguais do que outros, principalmente se fossem fortes candidatos para o curso de medicina.
            Faltava pouco para chegar ao térreo, e eu já cansado queria apenas sair dali e me jogar na cama, esquecer tudo aquilo nem que fosse através do meu curto sono. É bem verdade, que uma mente intranquila não dorme direito e tranquilidade era uma coisa que não me visitava a muito tempo. Ao sair da escola me despeço de alguns alunos e funcionários e dirijo-me para o meu carro, noto que meu celular sinalizava uma mensagem de texto, imaginei logo que fosse Dalila, mas para o meu temor era algo muito pior, no mínimo inesperado:

            - “Quando puder entre em contato, precisamos conversar. Ass: Alice”.

Fim do capítulo 7. Aguardem, semana que vem teremos novidades!!!

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