Carpe Diem

E que venha a loucura

E que venha com toda a força

Força que me faça despencar das minhas próprias crenças

Crenças loucas


E que venha a fé

E que venha você

Renda-me!

Lute e enlouqueça também

Fuja da realidade

E se entregue às oportunidades...


Abandone a sua razão insana

E se afogue nesse mar de incertezas

Seja puramente profana

E que o nosso juiz seja a nossa vontade


E que o nosso controle e bom senso sejam passageiros

Viajantes de longa data

E que se percam na nossa odisséia

Na nossa aventura

Com nossa loucura

Buscando o porquê de ainda existir...

(Noturno)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

CAPÍTULO III: ALICE

PARTE 1: Estranha descoberta

Há exatos 6 anos atrás...

            - Poderíamos conhecer o mundo sabia?
            - Você não permite que eu o conheça como pode me oferecer o mundo?
            - A Vida é buscar o desconhecido...
            - Desconhecido pra mim é apenas o que passa em sua cabeça, seu louco!
Eu a conheci quando tinha 18 anos, num lugar onde era improvável de se conhecer qualquer grande amor: em uma fila para comprar passe-escolar. Engraçado? Não, apenas estranho. Como sempre, eu estava atrasado e era o último de uma interminável fila, um ar condicionado meia-boca e um calor insuportável tornavam o desafio de se chegar ao caixa uma verdadeira Odisséia. Faltavam somente 2 pessoas e eu sabia que sem o passe-escolar minha ida a escola seria quase impossível, faltar logo na primeira semana contribuía para a fama que eu já carregava sobre si: aluno displicente e despreocupado com tudo. Com certeza não era a melhor fama a se carregar, mas por um lado, eu pouco me importava em ter qualquer imagem que fosse, naquela escola, tudo era imagem, tudo era status.
O penúltimo foi chamado, e eu estava a poucos minutos de acabar com o meu calvário, a ansiedade espremia meu estômago e me fazia contar cada segundo. O mais interessante de quando se está ansioso, é a forma como nós observamos as coisas ao nosso redor, tudo parece estar em slow-motion. O silêncio se faz presente e ao mesmo tempo é ensurdecedor, contraditório? Talvez, mas a vida por si só é contraditória. A sensação do suor escorrendo pelo rosto e o apertar que sentimos na barriga, uma agonia, e o impressionante é que essas sensações vêm e voltam como um pêndulo, até ficarem intensas a cada passo que nos aproximamos do nosso destino, a partir daí nós nos sentimos os últimos do mundo.
- Próximo!
 Eu sou chamado, parece que o tormento vai passar, apenas parece.
- Me dá 200 passes... To esperando a horas aqui, num vejo a hora de ir pra casa e...
- Sinto lhe informar, o sistema está fora do ar... Acho que não volta mais hoje.
- Mas como? Puta que pariu, e como é que eu fico? Eu não tenho passe nem pra voltar pra casa.
- Usa o dinheiro ué?
- Mas minha senhora, se eu usar o dinheiro eu vou desinteirar para a compra de amanhã e não conseguirei comprar o suficiente pra passar o mês! Vou ficar a pé!
- Caminhar faz bem...
- Não brinca com isso, eu preciso dos passes, por favor...
- Meu filho, eu não posso fazer nada!
- Minha senhora, isso é um absurdo! Como diabos essa merda pôde ficar fora do ar justo na minha vez? Puta que pariu, a senhora vai ter que fazer algo, senão...
- Senão o que seu moleque? Quem você pensa que é?
A confusão já se transformava em um verdadeiro barraco, onde os insultos pareciam composições ao ar...
- Ei?! Menino? Posso ajudar? Eu te empresto os meus...
- Hã? Olha, obrigado, mas não me entenda mal, eu não quero favor de ninguém daqui, eu quero apenas o meu direito de comprar a minha passagem!
- Olha calma, assim você não consegue nada. Por sinal, meu nome é Alice.
- Olha Alice, eu agradeço a sua ajuda, mas eu me viro sozinho.
- Certeza?
- Ow que jeito...
No fundo eu sabia que não me restava outra opção, o pior é que com tanta raiva nem notei a gentileza da garota, aliás, diga-se de passagem, que eu não notei nada ao meu redor. Acredito que a cegueira ou a perda grave do campo de visão é o primeiro sintoma de quando estamos com raiva. Na verdade é como se nós começássemos a enxergar tudo em vermelho e para piorar aquela sensação de cabresto tapando a nossa visão lateral, é constante. O sangue parece borbulhar e é totalmente compreensível quando as pessoas explodem. A vontade que dá mesmo é gritar, quebrar tudo ao nosso redor, esculhambar tudo, já eu, optei por resmungar e digerir tudo aquilo.
Comecei a caminhar. O percurso de volta para casa era longo, contudo o que me preocupava não era nem isso, porque caminhar por caminhar, às vezes é até bom para espairecer, aquela brisa no rosto leva consigo todas as preocupações. O meu temor era que às 5 da tarde com 200 e poucos reais no bolso, eu me tornava um verdadeiro brinde aos possíveis assaltantes, mas... Desgraça pouca é bobagem não é mesmo?
Procurei não olhar para os lados e continuar o meu caminho, queria não estar ali, parecia ser tudo tão simples, eu só precisava comprar os passes e tudo ia ficar bem, mas o sistema fica fora do ar! Dá pra acreditar nisso?! Pra piorar eu ainda teria que escutar as reclamações da minha mãe, com aquele blá blá blá de que eu não sabia fazer nada direito. Eu queria mesmo era sumir.

Um comentário:

  1. Paulinho, você consegue descrever bem cada situação, cada momento. Lendo, parece que tudo está acontecendo comigo agora. Os diálogos fluem com facilidade e a história transmite consistência, complexidade e verossimilhança. Gosto muito da forma que escreve. Que venha os próximos capítulos! Bjo

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