Carpe Diem

E que venha a loucura

E que venha com toda a força

Força que me faça despencar das minhas próprias crenças

Crenças loucas


E que venha a fé

E que venha você

Renda-me!

Lute e enlouqueça também

Fuja da realidade

E se entregue às oportunidades...


Abandone a sua razão insana

E se afogue nesse mar de incertezas

Seja puramente profana

E que o nosso juiz seja a nossa vontade


E que o nosso controle e bom senso sejam passageiros

Viajantes de longa data

E que se percam na nossa odisséia

Na nossa aventura

Com nossa loucura

Buscando o porquê de ainda existir...

(Noturno)

domingo, 15 de janeiro de 2012

CONTINUAÇÃO DO CAPÍTULO III...

Em meio a sorrisos sinceros e confidências não tão sinceras, mergulhávamos naquela confusa amizade. Se procurássemos uma explicação racional para aquilo, com certeza não encontraríamos. Não, não tínhamos um caso, acho que nem sabíamos ao certo o que era aquilo, apenas sabíamos que era muito bom estar próximo um do outro. E de qualquer maneira, era bobagem pensar na possibilidade de algo ir além daquela colorida amizade, compromissos e obrigações nos distanciavam. Talvez mais obrigações do que compromissos. Mesmo assim, aquilo não era uma preocupação aparente, naquele momento apenas as longas conversas pela madrugada a fora e os olhares despercebidos nos bastavam. Éramos jovens, éramos felizes e, sobretudo, éramos inconseqüentes.
Encontrávamos em pelo menos dois momentos ao dia. Pela manhã na escola, passávamos todo o intervalo juntos, rindo, conversando, nem eu sabia de onde viria tanto assunto e quando nós não tínhamos o que conversar, apenas olhávamos um ao outro, longos minutos, e ao mesmo tempo muito curtos. O intervalo passava rápido e logo nos separávamos. A outra oportunidade que tinha era após o trabalho dela. E eu é claro, ia muito lá, sempre no final do turno, acompanhava ela até em casa e gastava sem dó os meus passes-escolares, o custo, esse é óbvio: comecei a andar de bicicleta. Mas só o fato de vê-la, era extremamente recompensante, nossa como eu adorava o sorriso dela, aquele jeito, me deixava louco. Todos ao meu redor já comentavam sobre aquela estranha e repentina amizade e Miguel, meu melhor amigo, não podia deixar passar em branco:
- E aew menininha!
- E aew Miguelito! Por onde anda o seu namorado?
- Sai bichona, já disse que não te quero mais! Até porque estou muito satisfeito em saber que você, o frio e calculista Pietro, a pedra de gelo está apaixonadinha... Acho que já esqueceu a cachorra da Bianca...
Miguel abria aquele sorriso de canto, como se soubesse exatamente a minha reação seguinte...
- Bianca, quem é essa? Nem lembro mais... E outra quem andou lhe dizendo mentiras? Não estou com ninguém.
- Como poderia esquecer da Bianca? Não foi ela que te trocou por aquele pastel? Como mesmo o nome dele?
- Luciano. E não precisa me lembrar dela, Bianca é passado. Será que você não entende um exemplo de sentido figurado seu idiota? E você não respondeu minha pergunta! Vê se pára de rir e responde logo.
- Estou apenas te zoando...
- E você acha que eu ainda não percebi?
- Calma noivinha...
- Responde logo Miguel...
- Pietro, até parece que você se esqueceu de onde estuda! As paredes aqui têm olhos e ouvidos meu filho! Mas como você sabe que eu sou seu brother... Foi a própria Bianca que me perguntou isso, perguntou já afirmando saca?
- Ouxe e qual é a dela?
- E eu é que sei é? Você que pegou ela não sabe, como eu vou saber?!
- As pessoas cometem erros né Miguel? Vai ficar me julgando a vida toda agora?!
- Num é julgando não, mas é que você é uma cabeça-dura do caralho! Eu falo, não faça isso e você faz, está sempre fazendo o contrário do que eu te digo, depois fica aí com essa cara de cu sem saber o que fazer...
- Também não é assim amigão...
- Claro que é! E tem mais, se eu fosse você não me meteria com essa aí não, como é mesmo o nome dela? Alice né?
- Se você já sabe por que fica perguntando? E eu não tenho nada com ela... Pelo menos ainda...
- Ahh cachorro! Eu sabia! Você está de olho nela sim! Velho, a menina é uma destroçadora de corações, vem e vai do nada, fique longe!
- Como você sabe isso?
- Ouxe, através da maior fonte de informações de garotas dessa escola!
“Bianca”
- Pára com isso, ela tá falando isso por que deve tá com dor de cotovelo...
- Sei não... Bianca não é de mentir, e outra foi ela que te largou e não o contrário... De qualquer forma, fique alerta.
Eu até tentaria, mas era impossível ficar longe dela. Aquela amizade, aquelas conversas, aquele período onde há uma conquista mútua, eu e ela sabíamos disso e era justamente por isso que estávamos cada vez mais envolvidos. Os avisos de Miguel foram com certeza em vão.
 Alice era simplesmente Alice. Sua beleza maior não residia na sua aparência, mas sim no seu comportamento. Seu sorriso meigo não era produto de posturas piegas e adocicadas, semelhantes àquelas falsas garotas que fingem ser menininhas ingênuas, não que ela fosse boba ou ingênua, pois ela conseguia como nenhuma outra reunir em si a menina e a mulher. Nada de corpo esculpido de atriz de novela, apenas um corpo comum, contudo, aquele olhar, aquele sorriso era indefinidamente apaixonante. Sem dúvida alguma, ela seria a melhor princesa de qualquer conto de fadas, a minha tristeza era estar certo que em nenhuma hipótese eu seria o príncipe.
- Por que você sempre está tão pensativo hein??
- Ouxe! E agora meus pensamentos te incomodam é?
- Sei lá, você parece estar perdido no meio do nada, como se o mundo estivesse parado ao seu redor... Como se eu não estivesse aqui...
- Não é isso menina... Eu apenas... Deixa! Você não entenderia...
- Claro que entenderia! Aconteceu algo?
- Mais ou menos...
- Como assim “mais ou menos”?
- É que o que aconteceu não foi comigo e daí não sei se tenho o direito de opinar...
- E aconteceu com quem?
- Com você...
- Ahhh não, se foi comigo você vai ter que falar, até porque eu não me lembro de nada que tenha acontecido!
- Tem certeza?
- Bem, acho que sim...
- Eu te vi chorando ontem após a aula... E não é de agora, que tenho notado você pra baixo, tristinha...  Olha, eu não quero me meter, mas sei lá, não consigo ficar sem perguntar algo a você, o que aconteceu?
Ela não me respondeu, olhou fixamente em meus olhos como se quisesse me contar a história de toda uma vida, mas não emitiu sequer uma palavra, sua despedida se resumiu em um breve sorriso e eu do alto da minha estupidez não entendi absolutamente nada e fiquei atônito enquanto os passos dela distanciavam de mim, da minha vida e quem sabe até do meu já nascente romance.

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