Carpe Diem

E que venha a loucura

E que venha com toda a força

Força que me faça despencar das minhas próprias crenças

Crenças loucas


E que venha a fé

E que venha você

Renda-me!

Lute e enlouqueça também

Fuja da realidade

E se entregue às oportunidades...


Abandone a sua razão insana

E se afogue nesse mar de incertezas

Seja puramente profana

E que o nosso juiz seja a nossa vontade


E que o nosso controle e bom senso sejam passageiros

Viajantes de longa data

E que se percam na nossa odisséia

Na nossa aventura

Com nossa loucura

Buscando o porquê de ainda existir...

(Noturno)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CONTINUAÇÃO DO CAPÍTULO III, PARTE 2...

PARTE 2: Desencontros

Os meses se passavam e Alice jamais me contou o porquê da sua tristeza, mal sabia que eu era o grande culpado pelas suas lágrimas, pela sua indecisão. É interessante como esse sentimento de culpa me acompanha me atordoa e me incomoda, às vezes penso que minha mãe realmente tinha razão. Por onde eu passo nada fica de pé, nada fica normal, mas eu sabia e sei que precisava mergulhar mais naquela amizade, precisava descobrir se era mesmo paixão, eu sabia que não podia, mas o não poder também pode significar o não viver, eu sabia que precisava me arriscar. Mas assim, como Miguel havia me dito, ela foi sumindo aos poucos, desvanecendo ao ar como uma nuvem que vai se fragmentando ao céu... Quanto mais eu a procurava mais eu me tornava cego, obcecado. Eu sentia frio com o seu abandono e não conseguia discernir o concreto do abstrato, imaginava um milhão de possibilidades, mas não conseguia formular uma simples resposta, até porque minha pergunta favorita já se tornava eco: Alice onde está você?
Após alguns dias eu a vi voltando para casa. Sozinha, aparentemente abatida, Alice não olhava para trás. Pronunciei o seu nome, e ela simplesmente continuou caminhando. Não suportei aquilo e acelerei o meu passo, alcançando-a dessa maneira, segurei-a pelo braço e assim que pude mais uma vez admirar aqueles olhos...
- O que está acontecendo com você? Não retorna as minhas ligações, me evita ao máximo na escola, por que isso tudo?
Alice pôs as mãos no meu rosto e me olhou firme, nunca me esquecerei daquele olhar profundo, daquele pedido desesperado por ajuda, que eu jamais pude entender. Eu fui egoísta, eu fui bobo e acima de tudo, eu fui infantil. Após me olhar daquela forma, eu simplesmente fechei os olhos quando ela os acariciou, ela encostou os seus lábios no meu rosto e sussurrou algo que ainda me pergunto o que realmente significaria...
- “A amizade é um amor que nunca morre”... Espero que um dia você me entenda.
Ela sorriu meio sem jeito e continuou andando e eu ainda estático com aquilo fiquei uns 10 minutos parado no meio do nada, sem entender ao certo, o que ela quis dizer... Para ser sincero, como já falei anteriormente, até hoje eu não entendi.
Caminhava para casa com dúvidas e sentimentos em minha mente. Não entendia porque Alice tinha fugido daquela forma, nem sequer me respondeu, apenas sorriu e continuou caminhando. O que diabos ela tinha? Bem, ela iria me contar a qualquer momento, eu tinha certeza disso, ou pelo menos achava que tinha.
            Os dias foram passando lentamente e eu não tinha muitas notícias sobre Alice, às vezes a via no trabalho dela quando ia comprar passe-escolar, mesmo assim, ela mal me olhava, evitava-me como se eu fosse um estranho. E eu também não queria ser chato e ligar pra ela toda hora, talvez ela quisesse ficar sozinha, apenas sozinha, eu precisava respeitar aquilo, não podia simplesmente invadir a vida de uma pessoa só por me sentir sozinho, afinal de contas eu não era nada na vida dela, não passava de um qualquer que a tinha conhecido de forma acidental e tragicômica, eu precisava esperar ela vir até mim, mesmo que isso fosse extremamente doloroso.
            O celular toca e eu corro esperando ver o nome dela, mas não era nada, apenas Miguel me chamando para jogar bola, eu não tinha motivação para andar pela casa, quanto mais para jogar bola. Putz, porque caralho ela resolveu sumir assim? O que eu tinha feito de errado? Não me lembro de ter cometido crime algum...
            Toda mensagem que chegava ao meu celular, ou qualquer aviso que eu recebia, eu torcia com todas as forças para que fosse ela. Eu mal tinha percebido o quanto ela pertencia a minha rotina, e isso foi do nada, de repente ela estava em mim e com a mesma velocidade tinha desaparecido. É interessante como a ausência nos traz respostas. O silêncio é extremamente esclarecedor e quanto mais ele fica impregnado ao nosso redor, mais nós aprendemos sobre nós mesmos e sobre tudo que nos acompanha, e foi naquele silêncio, naquela solidão, que eu percebi a falta que ela me fazia. Ninguém poderia ocupar o espaço dela na minha vida, eu que pensava que tudo que diziam sobre essa sensação fosse enxamezinho ou drama de pessoas carentes, mas percebi que estavam certos. A vida perde a cor, nada tem graça e a gente tem aquela sensação de que nada mais tem sentido. Mas puta que pariu! O que eu fiz a ela? E por que sentia tudo aquilo em tão pouco tempo? Teria eu errado? E se tivesse, será que eu era merecedor de tal tratamento, de tal frieza?! Eu simplesmente não tinha respostas, praguejava ao frio da noite e olhava pro celular segurando o meu orgulho para não ligar para ela, para não me mostrar frágil e dependente. Se pudesse falar com ela... Se pudesse olhar para ela... Ela me entenderia, me diria o que havia de errado... Mas eram tantos “se’s” que eu já estava confuso demais. E o pior, minhas dúvidas caminhavam numa única conclusão, eu a amava... Sempre achei essa palavra piegas, cheia de apelos sentimentais, mas era fato, eu a amava e não sabia como reagir a isso, muito menos como solucionar tal situação. Precisava falar com ela, mas sabia que não podia estragar tudo, não podia chegar do nada e dizer “Oi Alice, eu te amo...” seria sem nexo e é claro, absurdo. Precisava fazer algo, precisava ir atrás dela, era a única coisa que meus pensamentos e o meu coração exigiam naquele momento e eu o faria, com certeza o faria.
 Entre as minhas piores frustrações residia o nome ALICE, talvez saber que fui eu o responsável pela sua maior mágoa, fazia de mim o vilão e o não o cavaleiro do conto de fadas que ela tanto sonhou, foi com ela que eu aprendi pela primeira vez que somos inteiramente responsáveis pelos nossos atos, pelas nossas decisões e é claro, pelas nossas escolhas.

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