Carpe Diem

E que venha a loucura

E que venha com toda a força

Força que me faça despencar das minhas próprias crenças

Crenças loucas


E que venha a fé

E que venha você

Renda-me!

Lute e enlouqueça também

Fuja da realidade

E se entregue às oportunidades...


Abandone a sua razão insana

E se afogue nesse mar de incertezas

Seja puramente profana

E que o nosso juiz seja a nossa vontade


E que o nosso controle e bom senso sejam passageiros

Viajantes de longa data

E que se percam na nossa odisséia

Na nossa aventura

Com nossa loucura

Buscando o porquê de ainda existir...

(Noturno)

terça-feira, 15 de maio de 2012

CAPÍTULO 6: Os pecados dos pais serão pagos pelos filhos...


PARTE I: O despertar

Aracaju, 1985

            Era tarde e Otelo ainda não retornara para casa, a tentação de um encontro às escondidas com Júlia valeria o sacrifício de alguns dias de castigo. Ele um jovem músico que possuía mais sonhos do que posses, ela uma jovem estudante de Medicina que possuía mais posses do que sonhos. Como já era previsto, o romance não daria certo, mas ainda assim ele a desejava e no fundo sabia que ela o correspondia.
            Após um dia inteiro de planos mirabolantes, Otelo e Júlia decidiram se encontrar na Acústica da Universidade, para conversar, sentir um ao outro, descobrir que aquilo não era ilusão, simplesmente às escondidas, deixar o amor fazer a sua parte. Ele sabia que a aula dela acabava por volta das dez, então era só pegar a bike e ir direto da escola para a UFS, talvez o perigo oferecido pela noite poderia ter feito com que ele mudasse de ideia, mas a vontade que nutria de simplesmente ouvir o sorriso daquela menina era impressionante. A força que ela exercia sobre Otelo era deslumbrante e ele já não era mais senhor de si, deixava-se guiar pelas promessas de um sentimento que ninguém nunca soube explicar ao certo.
            É interessante como nós seres humanos perdemos o controle sobre si tão facilmente basta um olhar e tudo cair por terra. Foi assim com Otelo, estudante secundarista, 17 anos, que tocava violino na Praça da Catedral para inteirar alguns trocados e com eles suportar as dificuldades de uma vida honestamente humilde. Numa certa manhã, dessas que amanhecem por aí, enquanto mergulhava seus sonhos na poesia musical algo o tirou de si. Uma garota, para ele muito mais que isso. Júlia, 18 anos, recém-aprovada no vestibular que mesmo descrente, foi a missa para cumprir a promessa feita a mãe: ir a Igreja para agradecer. E como se já estivesse previsto, não entrou na Igreja naquela manhã e mesmo sem ter cumprido a promessa feita a mãe, com certeza ela cumprira os desígnios religiosos. Não há nada mais divino do que o amor e foi através da música de Otelo e a descrença de Júlia que aquele confuso e conturbado amor começou.
            Todas as vezes que ele se lembrava daquele dia seu coração apertava e fazia valer cada pedalada, cada bronca, qualquer coisa para estar com ela. Nenhuma diferença se fazia valer entre eles, era tudo tão momentaneamente belo que mais parecia um sonho. E como todo sonho está destinado a acabar, o de Otelo não seria diferente.
            Não demorou muito para que a mãe dela descobrisse o romance e como era de se esperar, logo eles foram proibidos de se ver, caberia então a Otelo se arriscar e se encontrar no meio da noite, em plena Universidade, para estar apenas 30 minutos com a menina mais fantástica do mundo, àquela que o teria salvo da solidão. Ele provavelmente apanharia do pai, que de tão bêbado, não entendia o amor e ela ficaria de castigo, mas ainda assim, o amor prevaleceria, pelo menos por enquanto.
            O mais impressionante daquela relação é que toda a doçura, toda a poesia era dele, Júlia apesar de menina, foi endurecida pela mãe e ele apesar de uma vida tão sacrificante e, por muitas vezes injusta, teria voltado seus olhos apenas para a mais pura sincera bondade, ainda assim, eles se amavam. Ambos sabiam que eram os únicos que se entendiam do início ao fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário