Carpe Diem

E que venha a loucura

E que venha com toda a força

Força que me faça despencar das minhas próprias crenças

Crenças loucas


E que venha a fé

E que venha você

Renda-me!

Lute e enlouqueça também

Fuja da realidade

E se entregue às oportunidades...


Abandone a sua razão insana

E se afogue nesse mar de incertezas

Seja puramente profana

E que o nosso juiz seja a nossa vontade


E que o nosso controle e bom senso sejam passageiros

Viajantes de longa data

E que se percam na nossa odisséia

Na nossa aventura

Com nossa loucura

Buscando o porquê de ainda existir...

(Noturno)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Continuação do capítulo 6...


Parte 2: O Sacrifício

            Anos se passaram após aquele encontro sob o luar, e mesmo que eles continuassem a se ver esporadicamente, o sentimento cultivado por ele apenas amadurecera. Apesar disso, já havia muito tempo que ele não a vira e desejava fazê-lo o mais rápido possível. Mesmo assim, encontrar Júlia tinha se tornado algo cada vez mais sacrificante e doloroso. Os pais dela desconfiavam de um possível relacionamento e aquilo com certeza estaria fora dos planos deles. Júlia era a menina de ouro, àquela que fora preparada desde o berço para se tornar a médica da família, antes mesmo de passar no vestibular, seus pais, médicos também, já estavam se preparando para enviá-la a Boston onde faria a sua especialização em Neurologia. Pais... São sempre os mesmos, organizam tudo, planejam cada passo, exceto um: a vontade individual do filho.
            Júlia cresceu assim, cercada de planos (dos outros) e ao mesmo tempo mergulhada em amor. Otelo não teve a mesma sorte, família pobre e pai alcoólatra, combinação explosiva que resultava em sessões semanais de espancamento. Às vezes, o garoto apanhava tanto que mal podia carregar o violino de tantos machucados em suas mãos. Apesar de tudo, Otelo possuía uma luz dentro de si que encantava a todos, ou pelo menos quase todos, e com esse dom ele conseguia seguir a vida. Ao entardecer, Otelo se dirigiu até a rua de Júlia e lá ficou durante horas, seu objetivo imediato: vê-la a qualquer custo.
            A noite já entrava madrugada a dentro e Otelo permanecia imóvel e angustiado, não imaginava o que poderia acontecer, mas desejava com o mais profundo sentimento encontrá-la, resolveu arriscar. Não aguentava mais ficar ali e depois de alguns segundos de hesitação optou por pular o muro da casa dela, aquilo parecia uma ideia maluca, mas por outro lado, o que poderia acontecer? Apanhar da polícia? Ele já iria apanhar do pai mesmo, uma surra a menos ou a mais não iria fazer diferença.
            Os passos de Otelo gracejavam lentamente pela varanda de Júlia, nenhum sinal de gente acordada, e isso naquele momento parecia ser muito bom. A escuridão da casa pregava peças na mente dele e o medo de ser flagrado, antes diminuto, agora se apresentava constante. “Que ideia maluca?!” Ele não parava de pensar, era preciso chegar à janela do quarto dela, o mais rápido possível, mas como? Se ele mal sabia se estava na casa correta.
            Seu coração apertado guiava o seu corpo casa a dentro, mas a sua mente exigia a sua saída imediata, o jovem garoto estava a beira da loucura e a ansiedade somente piorava a situação. “Será que tem cachorro? Será que o pai dela anda armado? O que eu vou dizer aos meus pais?” Otelo não parava de pensar, seus pensamentos pareciam paralelepípedos lançados contra ele e o garoto, ingênuo e ao mesmo tempo altivo, sabia que no fundo não teria outra chance daquela.

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