Carpe Diem

E que venha a loucura

E que venha com toda a força

Força que me faça despencar das minhas próprias crenças

Crenças loucas


E que venha a fé

E que venha você

Renda-me!

Lute e enlouqueça também

Fuja da realidade

E se entregue às oportunidades...


Abandone a sua razão insana

E se afogue nesse mar de incertezas

Seja puramente profana

E que o nosso juiz seja a nossa vontade


E que o nosso controle e bom senso sejam passageiros

Viajantes de longa data

E que se percam na nossa odisséia

Na nossa aventura

Com nossa loucura

Buscando o porquê de ainda existir...

(Noturno)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Continuação...


Parte 3: O Alicerce

Meses depois

            Angustiada. Talvez essa fosse a palavra mais adequada para caracterizar Júlia, grávida de 3 meses, logo ela não conseguiria mais esconder a sua condição para a sociedade e principalmente para os seus pais. Otelo, não tinha respostas, e imaturo do jeito que era, jamais saberia contornar aquela situação, o garoto ingênuo e carinhoso apresentava-se cada vez mais desesperado e infantil.
Otelo, em suas angústias buscou auxílio em seus pais, contudo, a única ajuda que recebeu foi um convite para se retirar de casa. Morava agora num quartinho e vivia daquilo que conseguia arrecadar com a sua música. Não demorou muito e ele largou a faculdade, dedicou-se a vida noturna, tocando em barzinhos, o que o levou a uma nova paixão, o alcoolismo. Perdido e desamparado, Otelo seguia rumos cada vez mais obscuros e Júlia, desconsolada, não sabia como reagir. Não era apenas uma questão de desamparo, ele realmente não aceitava ter chegado a esse ponto, estragara a vida dele, arruinara o futuro de Júlia que agora chorava copiosamente pelos cantos. Faltou a eles conselho, faltou carinho, no entanto, cobranças e dúvidas sobraram.
            Não demorou muito para que os pais dela descobrissem a gravidez e assim como o esperado a puseram para fora de casa. Grávida e sem opções, Júlia foi morar com Otelo, e muito em breve também abandonou a faculdade, passou a se dedicar a trabalhos domésticos na casa de alguns pais de suas amigas, que tentavam ajudá-la de alguma forma. Júlia sempre fora altiva, nunca se humilhou e mesmo naquela situação drástica enfrentou tudo e todos, ela endureceu.  Não era o mundo que ela projetara, não era um sonho, não era vida.
            Diferentemente dela, Otelo não soube lidar com a situação, as dificuldades financeiras e a proximidade do nascimento da criança, daquela quase maldita criança, distanciaram ele de Júlia e quando menos esperavam, já se sentiam estranhos vivendo no mesmo minúsculo e humilde espaço.
As acusações eram realizadas diariamente, um contra o outro, dor contra dor. De certa forma, a criança que nem viera ao mundo sentia isso e logo pagaria por um crime que nem ao menos sabia que existia. Otelo se embriagava mais e mais e já não era o mesmo, Júlia se afundava em trabalho e já vislumbrava num futuro virar o jogo. Voltar para a faculdade, criar o menino, contudo, aquele outrora fora seu amor, perdia-se em sonhos e devaneios. Ela não conseguia ajudá-lo e depois de certo tempo também não quis mais fazê-lo. A criança nasceu e mal sabia que um abismo de mágoas a esperava. Cansada daquele mundo, Júlia decidiu dar um basta e ir embora, aquilo era o fim para ele, tudo perdido e com uma vida tão difícil ele se perdia ainda mais dentro de si.
O tempo passou e Otelo assistiu de perto o crescimento de Júlia, viu como ela poderia crescer e superar aquilo, também a viu se envolver com outros amores outras histórias, era tudo muito nublado para ele, que mal sabia diferenciar a loucura de sua triste realidade. Mesmo com todo o esforço, Júlia jamais conseguiria se reerguer como diarista, ela não merecia e ele de alguma forma pensava em ajudá-la, nem que para isso fosse necessário mover céus e pedras.
            O alcoolismo transportou Otelo de seu mundo fantasiado para uma virulenta depressão. Ele depositara em si toda a culpa por aquilo e ao menos uma vez desejara não ter conhecido aquele que fora o grande amor da sua vida, restava então um último gesto de amor, a criança não poderia sofrer por eles e merecia de alguma forma ter o seu futuro assegurado, Otelo sabia disso e jurou para si mesmo que devolveria tudo o que ele pensou ter privado de Júlia. Em sua mente já perturbada tomou a mais triste de suas decisões.
            Era um domingo qualquer, daqueles que amanhecem com os pássaros, o jovem maestro buscou na loucura as respostas para as suas angústias. Pendurado na cozinha, Otelo fora encontrado, aos seus pés diários que se perderiam ao longo do tempo e uma carta com os dizeres

            “Meu amor, meu eterno amor, não saberia dizer-te adeus. Não culpe a criança, minha partida trará uma melhoria inesperada na sua vida, levo comigo a lembrança daquela menina que sempre viverá no meu olhar... Com amor, Otelo”.

            Durante dias incontáveis, Júlia chorou. Suas noites vazias e a solidão que a massacrara diariamente a moldaram numa outra mulher, fria, amargurada que cheia de remorsos não soube aceitar a partida do seu único amor. O dinheiro adquirido com o seguro de vida feito por ele nunca preenchera a sua ausência, aquele fora o seu último poema, o seu sacrifício, restava agora a Júlia seguir adiante, mesmo que não aceitasse a criança, mesmo que a culpasse por tudo, era necessário criá-la e fora assim que, o pequeno menino crescera. Sempre rotulado, escolhido como o vilão de uma história de amor fracassada, sempre criticado, esculpido pela dor e sofrimento de Júlia, fora assim que se moldara aquele que deveria ser um novo homem, um novo alicerce: Pietro.

FINAL DO CAPÍTULO 6, em breve... Mais novidades!!!

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